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Trabalhadores na Ford deixam um símbolo de luta aguerrida com greve histórica

Greve dos Golas Vermelhas completou 30 anos na última quarta (22) com legado de luta e unidade dos metalúrgicos do ABC

Publicado: 23 Julho, 2020 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Roberto Parizotti (Sapão)
trabalhadores na fordtrabalhadores na ford
Repressão policial da greve

De início, passeatas, mobilizações e greve de Campanha Salarial em toda a categoria. Veio a intransigência por parte da Ford, a demissão de 100 golas vermelhas e a suspensão do adiantamento salarial de todos os 7.400 trabalhadores. Em seguida, a radicalização do movimento por parte dos trabalhadores na montadora. Teve fábrica cercada pela Tropa de Choque da Polícia Militar. Teve solidariedade e unidade de toda a categoria. Teve a conquista do respeito e da negociação. E a greve deixa um legado de luta para a classe trabalhadora.

Ao completar 30 anos de uma das mais representativas greves da história dos Metalúrgicos do ABC, a Tribuna conversou com dois dirigentes, Tsukassa Isawa, líder do movimento na época, e Alexandre Colombo, que foi CSE na Ford e diretor executivo do Sindicato até o mandato que se encerrou no fim de semana.

A Greve dos Golas Vermelhas, nome em referência ao uniforme usado pela manutenção e ferramentaria na Ford, durou 50 dias, entre junho e julho de 1990. A estratégia de Campanha Salarial na Ford foi parar os 900 golas vermelhas.

Mesmo com o acordo de Campanha Salarial aprovado pela categoria em 29 de junho, na Ford ainda tinha a pendência dos 100 demitidos, entre eles o ex-presidente do Sindicato, Rafael Marques.

Isawa lembrou que o primeiro ‘quebra’ foi no dia 20 de julho, uma sexta-feira à noite, quando a Ford suspendeu o pagamento do adiantamento salarial. A reação dos trabalhadores foi depredar e incendiar veículos na fábrica.

“Até então, a greve era dos golas vermelhas. O ‘quebra’ foi espontâneo, pegou a gente de surpresa, estava no bar da Rosa (na esquina do Sindicato) quando veio a notícia de que a Ford estava pegando fogo. Foram os golas azuis (produção), que não estavam em greve, que reagiram quando a fábrica deixou de fazer o pagamento”, contou.

Os dias foram de tensão e negociação até 30 de julho, quando o acordo de reajuste foi aprovado, com readmissão de 80 companheiros. Vinte trabalhadores saíram por um programa de demissão voluntário. João Ferreira Passos, o Bagaço, e José Arcanjo de Araújo, o Zé Preto, que integravam a Comissão de Fábrica, pagaram o preço pela greve e foram afastados, mas com manutenção dos pagamentos.

Crédito: Roberto Parizotti (Sapão)
Golas vermelhasGolas vermelhas
Golas vermelhas

“Uma das coisas que essa greve mudou foi o fim da arma usada pela empresa de demitir e intimidar trabalhadores. Aconteceu o contrário do que ela queria, a greve resistiu e foi uma das mais longas em uma empresa privada no Brasil exatamente por conta das demissões. Quando terminou a greve, ficou um orgulho muito forte dentro da fábrica, da peãozada ter resistido, participado e visto tudo o que tinha acontecido”, afirmou Isawa.

“Tem conceitos que permanecem. Se você quer algo, tem que ir pra cima e lutar. Tem que contestar o poder da empresa e do governo. Historicamente, quem faz os grandes movimentos é a juventude. Foi assim na greve de 1990, era a molecada que euforicamente carregava o movimento, com alegria e vontade de fazer a diferença. Os trabalhadores na Ford deixam um símbolo de fábrica aguerrida e com muito compromisso de luta”, ressaltou.

Solidariedade e luta

Colombo, que tinha 26 anos na época, destacou que a solidariedade foi uma das marcas durante todo o movimento. “Enquanto estávamos em greve, sem receber, o pessoal da produção contribuía com o valor de 10h do seu trabalho para pagar o salário de quem estava na luta. Entendiam que a greve era para que toda a categoria recebesse aumento salarial. A categoria também foi solidária, com arrecadação em diversas fábricas”, lembrou.

“Foi uma greve marcante, a Ford radicalizou nas negociações e os trabalhadores radicalizaram no movimento. A unidade, o companheirismo de todos, o mesmo ideal de luta, foram pontos marcantes. Também teve muita dedicação, eram seis, sete assembleias em um dia, em um movimento muito forte”, recordou.

“Dali pra frente, a fábrica começou a encarar a força e a unidade dos trabalhadores de outra forma, houve uma quebra de paradigma e foi criada outra relação capital e trabalho, com mais respeito na negociação que o Sindicato sempre buscou”, disse.

Saiba mais do projeto de memória da Greve dos Golas Vermelhas, com detalhes da luta, depoimentos e imagens, no site golasvermelhas.com.

*Matéria publicada no site do SMABC