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Volks suspende produção e sindicato luta por paralisação total contra Covid

Para presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, índice de contaminação nas montadoras reproduz realidade brasileira. “Para conter a doença, ou imunizamos todo mundo ou paramos tudo”, diz Wagnão

Publicado: 22 Março, 2021 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Adonis Guerra
Paralisação na FordParalisação na Ford
Assembleia na Volks

O preparador de carrocerias da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, Diógenes Cordeiro, disse estar aliviado com o anúncio da montadora de suspender a produção por 12 dias a partir da próxima quarta-feira (24) devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) em todo o país.

A luta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) junto com outras entidades, pela paralisação total das montadoras para evitar a proliferação da doença, que já conseguiu vitória importante como a suspensão da produção na Volks, também é vista com bons olhos pelo metalúrgico.

Contaminado e em quarentena há 11 dias para cuidar da saúde e evitar contaminar outras pessoas, Diógenes afirmou que estava inseguro de ter que retornar à fábrica no próximo dia 26, quando vence a validade do seu atestado. Ele acredita que pode ter sido contaminado dentro da fábrica.

“Apesar de todos os cuidados que tomo, acredito que me contaminei na fábrica porque tem muita gente se afastando por Covid”, diz o metalúrgico.

“Estou fechado no quarto, separado da minha esposa e das minhas três crianças. O ideal seria que tudo parasse até que baixe o contágio, infelizmente além de enfrentar o vírus temos que encarar um presidente desumano e sem noção que só faz piorar as coisas”, completa o metalúrgico se referindo a Jair Bolsonaro (ex-PSL), que sabota as medidas tomadas por governadores para conter a transmissão e mortes, indica medicamentos sem eficácia, reproduz fake news  e até agora não criou um comando nacional de combate à Covid-19.

“Com o fechamento da empresa milhares de famílias não precisarão passar pelo que eu e minha família estamos passando. Vai evitar mortes e melhora a qualidade de vida dos trabalhadores. Tenho certeza que vai ser muito bom para todos, nosso sindicato está sempre atento as necessidades dos trabalhadores e sou muito grato e orgulhoso de fazer parte dessa categoria”, finaliza DIógenes.

A decisão da montadora alemã foi tomada em conjunto com os sindicatos locais, onde ficam as plantas da Volks no país, São Bernardo do Campo (SP), São Carlos (SP), Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (SP), em reunião realizada na semana passada entre a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o SMABC, que reforçou a necessidade urgente de paralisação das fábricas devido ao avanço da pandemia, que só no ABC já matou mais de 5 mil pessoas.

Em nota, a Volkswagen justifica a paralisação da produção com o agravamento do número de casos da pandemia e o aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI nos estados brasileiros com o fim de preservar a saúde de seus empregados e familiares. “Nas fábricas, só serão mantidas atividades essenciais. Os empregados da área administrativa atuarão em trabalho remoto”.

Números da Covid nas fábricas e no país e a luta do sindicato

Para o presidente do SMABC, Wagner Santana, o Wagnão, o índice de contaminação da Covid-19 nas fábricas não são diferentes dos números do restante do país, que se aproxima da trágica marca de 300 mil mortes.

Mesmo com medidas de segurança para proteção da saúde e da vida dos metalúrgicos e das metalúrgicas feitas pelas empresas e reivindicadas pelos sindicatos, quase cinco mil trabalhadores nas montadoras da região do Grande ABC já foram afastados do trabalho devido a doença desde o início da pandemia. Dos cerca 30,5 mil trabalhadores na Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e General Motors, dez morreram, segundo o SMABC.

A maior parte dos trabalhadores contaminados está na Volkswagen, 1.560 ou 18,3% dos cerca 8.500 funcionários. E, desses, cinco morreram. Seguida pela Mercedes-Benz, com 1.447 ou 17% dos também em torno de 8.500 profissionais, sendo quatro vítimas fatais. Na Scania, 761 ou 19% dos aproximadamente 4.000 empregados já foram infectados, e um veio a óbito. Na Toyota, 137 ou 9,1% dos 1.500 colaboradores. Na GM foram cerca de 500 ou 6,25% dos 8.000 colaboradores.

Segundo Wagnão, os números não são só números, são vidas e exige da categoria e de toda sociedade duas opções: Ou vacina todo mundo ou faz paralisação geral para barrar a doença.

“Também por reivindicação nossa, as montadoras estão testando todos e todas na fábrica e o índice de contaminação nas empresas gira em torno de 17% ou 18%. No país todo a média em geral é de 5% porque o governo não testa ninguém”.

“A gente quer que pare tudo para defender vidas e direitos e não dá para esperar ações do governo federal porque temos um genocida e negacionista no comando do país. Temos que ter vacina para todos e todas ou um isolamento severo. Só assim para gente conter esta doença”, afirma Wagnão.

O Sindicato continua em contato com as demais montadoras da região, Mercedes-Benz, Toyota e Scania, reivindicando a paralisação das atividades. Na pauta, os Metalúrgicos do ABC defenderam o isolamento social dos trabalhadores e propuseram que o setor privado compre vacinas e auxilie o sistema público de saúde no combate à Covid-19.

A Anfavea informou que acompanha com atenção essa nova fase da pandemia, mantendo reuniões permanentes com sindicatos, autoridades municipais, estaduais e federais.  “No que se refere à possibilidade de paralisações espontâneas nas fábricas, a decisão está a cargo de cada montadora, sempre em avaliação da situação sanitária de cada região do País, e em diálogo com os respectivos sindicatos de trabalhadores”, diz trecho do documento.

O coordenador do Sistema Único de Representação (SUR) da Volkswagen Taubaté, Cirineu Júnior, o Juninho, disse que a ação dos sindicatos, junto com a CUT e demais centrais sindicais e outras entidades foi acertada e que salvará vidas.

“Estamos numa situação insustentável e precisamos fazer alguma coisa. Em Taubaté, os casos e mortes só aumentam e a ocupação dos leitos na UTI já estão acima de 90%. Sem vacina, o isolamento social é a única alternativa para salvar vidas neste momento. Vamos continuar lutando para que esta decisão seja multiplicada pelas montadoras para preservamos a vida de cada trabalhador ou trabalhadora”, afirmou.  

Vacina para todos e todas

Wagnão também relata que a Anfavea manifestou concordância em relação à reivindicação do Sindicato para que as empresas do setor automotivo adquiram vacinas e insumos para doação aos Sistema Único de Saúde.

Nesta semana, sindicalistas conversaram com o prefeito de Santo André e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Paulo Serra, e combinaram uma reunião com a Anfavea na semana que vem para acertar os detalhes”, explica o dirigente em matéria publicada no Diário do Grande Abc.

*matéria publicada no site da CUT