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Trabalhadores de todos continentes dizem não ao PL 4330

Em Seminário Internacional preparatório para o 9º Congresso Nacional dos (as) Metalúrgicos (as) da CUT, dirigentes de todo mundo discutiram a ação global em defesa do trabalho decente na indústria.

Publicado: 13 Abril, 2015 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Roberto Parizotti
Representantes de 22 países dizem não ao PLRepresentantes de 22 países dizem não ao PL
Em solidariedade aos brasileiros, sindicalistas de 25 países dizem não ao PL 4330

Foi realizado, na tarde desta segunda-feira (13), o Seminário Internacional "Ação Global em Defesa do Trabalho Decente na Indústria". A atividade é uma preparação para o 9º Congresso Nacional dos (as) Metalúrgicos (as) da CUT, que começa nesta terça-feira (14), em Guarulhos (SP), e que termina na sexta-feira (leia aqui).

Os dois eventos são organizados pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT).

O principal debate do Seminário foram as ações sindicais de combate à precarização nas relações de trabalho em todo o mundo. Em solidariedade à atual luta dos trabalhadores brasileiros, cerca de 250 participantes, entre as quais 70 dirigentes sindicais de 25 países de todos os continentes, protestaram contra o Projeto de Lei 4330, que libera a terceirização para todos os setores. 

Crédito: Roberto Parizotti
Seminário começou com homenagem a Eduardo GaleanoSeminário começou com homenagem a Eduardo Galeano
Seminário começou com homenagem ao escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano

O secretário geral e de Relações Internacionais da CNM/CUT, João Cayres, abriu o primeiro painel do Seminário prestando uma homenagem ao escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, que faleceu nesta segunda. “Nossa América Latina amanheceu triste hoje. Perdemos Eduardo Galeano, um dos principais porta-vozes dos nossos sonhos por justiça, por igualdade e por solidariedade. Galeano e sua clássica obra As Veias Abertas da América Latina pautaram a vida de muito de nós, hoje reunidos aqui. E pautaram a vida de milhões de sonhadores e lutadores no nosso continente e no mundo”, declarou.

Em seguida, os palestrantes abordaram o atual cenário político e econômico no Brasil, os desafios e a conjuntura política na América Latina e as perspectivas no mundo do trabalho. A mesa, que foi coordenada por João Cayres, contou com a presença de João Felício, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, Fernando Lopes, secretário geral adjunto da IndustriALL Global Union, entidade internacional que representa os trabalhadores metalúrgicos, químicos e têxteis em todo o mundo.

Lisboa, que também é o representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT), defendeu que o direito de greve é um direito humano fundamental nas relações de trabalho em todo o mundo. “Precisamos elevar o tom frente aos constantes e agressivos ataques do capital, que busca jogar o ônus da crise nas costas dos trabalhadores. O que está em jogo não é apenas o direito de greve, mas sim a liberdade de defender os demais direitos. Os patrões estão reprimindo o direito da classe trabalhadora com ações dentro da própria OIT”, disse o dirigente cutista.

Já João Felício destacou o fortalecimento da organização, da unidade e da mobilização do sindicalismo contra o retrocesso neoliberal. “Na maioria dos países, os trabalhadores estão sendo afetados por reformas neoliberais que representam a precarização do trabalho, o arrocho salarial e o desemprego. O projeto de terceirização é um alerta para que toda a classe trabalhadora se una nacionalmente e internacionalmente para combater a precarização do trabalho”, afirmou. “Precisamos ir além da pauta trabalhista, necessitamos defender um novo modelo de desenvolvimento, que seja sustentável, priorize a distribuição de renda e a justiça social”, completou. A CSI é a maior entidade sindical do mundo e representa 180 milhões de trabalhadores no mundo

Fernando Lopes fechou o primeiro painel destacando o crescimento da precarização no mundo do trabalho e as ações das entidades sindicais para combater este problema. “As empresas estão terceirizando todo sistema produtivo e a contratação de trabalhadores por esse mecanismo está associada a salários e condições de trabalho muito inferiores aos dos contratados diretamente pelas empresas. Nós, como representantes dos trabalhadores de todo o mundo, temos de fazer uma luta global para garantir os direitos de todos os trabalhadores, inclusive os terceirizados”, disse.

Crédito: Roberto Parizotti
PainelPainel
Painel abordou experiências de combate à precarização em diferentes países

Experiências Internacionais
O segundo painel trouxe as experiências de sindicatos e redes de trabalhadores em vários países sobre a política industrial e a luta pela manutenção e conquista de empregos decentes. Representantes dos cinco continentes relataram as práticas das empresas transnacionais no mundo, a atuação dos sindicatos locais e as ações de solidariedade internacional.

Coordenada pelo diretor executivo da CNM/CUT, Valter Sanches, o painel teve a participação do tesoureiro do United Auto Workers (sindicato dos metalúrgicos nas montadoras dos EUA), Gary Casteel, do presidente do Interregional Trade Union Workers Association da Rússia, Alexei Etmanov, do dirigente do Numsa (União dos Trabalhadores Metalúrgicos da África do Sul), Hloza Motou, do vice-presidente do Serikat Pekerja Metal da Indonésia (FSPMI), Obon Traboni, do assessor de Relações Internacionais do Industriegewerkschaft Metall (sindicato dos metalúrgicos da Alemanha), Flavio Benites, do representante da União Nacional dos Trabalhadores no Metal e Ramos Afins do Uruguai (UNTMRA), Carlos Martinez, e da representante do Sintime (Sindicato Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgica, Metalmecânica e Energia de Moçambique), Ana Vanessa de Figueiredo Bernardo.

Hloza Motou contou sobre os avanços dos trabalhadores na indústria na África do Sul nos últimos anos: “Fizemos campanhas para banir e punir o trabalho precário. Antes, os trabalhadores não saíam às ruas para lutar por seus direitos. Mas ainda não combatemos eficientemente a globalização. Por isso, é importante que nosso movimento seja internacional para combater o mal do capital”.

Já Gary Casteel explicou as estratégias do UAW para garantir a sindicalização dos trabalhadores nas multinacionais instaladas no sul dos Estados Unidos, entre elas a Volks e a Mercedes-Benz, além da Nissan, que adotam práticas para impedir que os funcionários se associem à entidade. “Precisamos unir os trabalhadores de todos os países. Infelizmente, o modelo de precariedade de trabalho dos Estados Unidos é exemplo para as demais nações. Não posso deixar de agradecer a solidariedade dos trabalhadores brasileiros, que ajudaram a fortalecer o movimento de sindicalização. A solidariedade internacional é fundamental para o avanço das conquistas dos trabalhadores”, afirmou.

Obon Traboni mostrou os maiores problemas dos trabalhadores na Indonésia. “Temos muito que melhorar e aprender com os países que têm uma estrutura sindical sólida. Em nosso país, cerca de 70% dos trabalhadores são informais, ou seja, não temos direitos básicos como vocês, brasileiros, possuem. Todos os anos fazemos greves nacionais para aumentar o salário mínimo que é baixíssimo. Em 2014, três milhões de trabalhadores se juntaram à nossa greve”, contou.

Alexei Etmanov, por sua vez, agradeceu aos dirigentes brasileiros pela troca de experiências e solidariedade internacional. “O mundo sindical nos mostra uma nova forma de ver o mundo. O companheiro João Cayres foi um dos primeiros dirigentes estrangeiros que me apresentou novas possibilidades de organização sindical. O modelo brasileiro [Comitês Sindicais de Empresa] nos mostrou que é possível ter uma representação forte no chão de fábrica. Nosso sindicato tem apenas nove anos de existência, mas sabemos que este é o caminho e modelo para um sindicalismo forte e consistente na Rússia”, contou o dirigente.

A moçambicana Ana Vanessa abordou a situação das trabalhadoras em seu país que sofrem com demissões sem motivos. “Os patrões impedem com todas as forças que os trabalhadores lutem por seus direitos e melhores condições de trabalho. Nós, trabalhadoras de Moçambique, não temos as mesmas oportunidades de trabalho que os homens. Poucas mulheres trabalham e são raras que ocupam o cargo de chefia. Mas a realidade é que a mulher faz o trabalho com mais perfeição”, declarou. 

Em sua intervenção, o assessor Flávio Benites destacou o trabalho de redes sindicais, que fortalecem o debate e a elaboração de propostas para os Acordos Marco Globais (AMG's). "É fundamental que cada vez mais as empresas aceitem construir um acordo global porque assim se estabelecem padrões mínimos de condições trabalho exigidos pela OIT. Queremos que o desempenho da empresa seja reflexo do trabalho decente, e não do agravamento das desigualdades”, assinalou.

Valter Sanches explicou a atual situação política no Brasil aos participantes estrangeiros e criticou a votação do PL 4330. “Nos últimos 12 anos, conquistamos importantes direitos para toda a classe trabalhadora e para a sociedade. Se o PL 4330 for efetivamente aprovado, vai criar uma enorme onda de precarização do trabalho. Esta é apenas mais uma luta no enfretamento do capital e os sindicatos cutistas não podem renunciar ao seu poder de mobilização”, destacou. 

Para finalizar, Carlos Martinez falou sobre a situação econômica do Uruguai. “Temos um acordo nacional que protege muitos trabalhadores, mas com a globalização ficamos preocupados com a ameaça aos direitos conquistados”, afirmou.  

(Fonte: Shayane Servilha - Assessoria de imprensa da CNM/CUT)